Entre, porém já vou lhe precaver. Está uma bagunça.. não falo de minha casa, nem tão pouco de meu quarto. Digo que meu coração está uma bagunça, há sentimentos e dores espalhados por todos os cantos.. muitos retalhos de amor, como podes ver. É como se um furação houvesse passado por aqui. Esta tudo tão desarrumado, me perdoe. Mas não há o que eu possa fazer.. não sozinha. É impossível reconstruir tudo o que foi dilacerado, jogado ao chão, era tudo tão frágil.. mas quem vivia aqui parece que não sabia, foi tão grosseiro, hostil. Deixou marcas, cicatrizes.. está tudo tão sujo, o solo marcado de sangue. Não sei se algum dia conseguirei reconstruir tudo isso, amenizar o estrago sem tamanho, podes crer que tudo isso foi feito por uma unica pessoa? E pensar que a unica coisa que essa mesma fez foi sair daqui sem avisar. Sem explicações, sem um adeus. Já lhe aconteceu algo assim? Um caso de abandono? Talvez entenda-me, não é só a bagunça, mas também a dor que não me deixa em paz. Será que serei obrigada à aguentá-la a vida toda? Não pode ser possível algo assim.. porém talvez eu sinta falta da dor quando ela for embora sabe, o inquilino de meu coração também me causava dor e agora veja, aqui estou me lamentando por sua partida. A dor me parece ser a unica lembrança de quem viveu aqui. De quem feriu, bagunçou e extraviou sentimentos. De quem eu sinto falta e amo. Perdão, creio que posso ter lhe assustado por esse desabafo repentino e sem sentido.. mas é que sentia falta de conversar e também precisava deixar essas palavras fluírem, elas me sufocavam sabe.. Mas enfim, seja bem vindo e não repare a bagunça.
“Ainda ouço teus passos calmos vindo em minha direção, querendo me pegar de surpresa.. você sempre achou engraçado me assustar. Lembro do teu sorriso sofrido que segurava as lágrimas enquanto dizia que me amava, sim isso era verdadeiro. O brilho dos teus olhos adorava iluminar meu dia. Trazia-me rosas, e eu dizia que era clichê porém amava.. rosas brancas e vermelhas, eu implicava. Me lembravam ao flamengo, e como alguém pensaria em dar rosas flamenguistas à uma corinthiana? Você ria da minha conclusão doida, me chamava de louca. Você sempre com esse teu cabelo arrumadinho, eu sempre tentando estragá-lo pra ver você choramingar e falar que isso era algo que se demorava para arrumar.. fazia-me rir como ninguém nunca conseguia fazer. As pessoas que me cercavam sempre comentavam “como mudastes, ele te faz um bem danado” e elas estavam certas, botas-te um sorriso nesse meu rosto sempre tristonho. Eu que sempre gostei da doçura, acabei me acostumando com esse teu cheiro de menta, hortelã....
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Solta o verbo meu jovem.